quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Perfeição

 Amélia, no auge dos seus 13 anos, só conseguia pensar em uma coisa. Sair logo daquela piscina e ir correndo para casa da sua vó, onde, nesse horário, os seus bolos deviam estar cheirando tanto que o aroma chegava até o fim do quarteirão. A garota de olhos escuros e grandes era tão apaixonada com os doces da dona Eulália, que conseguia sentir o cheiro lá de dentro do ginásio de natação de sua escola.
 A água sempre tinha um poder grande sobre Emma, a fazia se sentir leve. Como se uma onda viesse e levasse pada bem longe todas as suas preocupações e bobagens de início de adolescência. Já chegara a achas que existia uma lei maior para as piscinas, proibindo que as pessoas levassem negatividades para o território cristalino. Por isso, sempre que ela queria pensar ou simplesmente fugir do mundo, ela corria pada a fonte de água mais próxima. Talvez seja por isso que quando os seus pais cismaram que ela ficavam muito atoa no dia em que não tinha nem aula de francês, nem de artes e que sua pilha de trabalhos escolares era só mais uma obrigação, e disseram que ela precisava praticar algum esporte, não pensou duas vezes antes de entrar na natação. Se ela não se engana, isso foi a bastante tempo atrás. Quando seu maior medo era não passar em alguma competição,
 Isso! O sinal!, ela pensou mergulhando pela ultima vez, antes de pular para fora da piscina. Assim que ficou de pé, correu para o vestuário, passando como foguete na frente de todas as outras meninas. Elas provavelmente gritaram coisas como "Cuido, Emma! O chão está todo molhado! O campeonato está chegando, não podemos perder nossa melhor nadadora, né?" e "O que foi garota? Quer derrubar alguém?", mas como sempre, ela ignorou e entrou no vestuário, doida para lavar o cabelo e botar seu moletom quentinho.
 Depois do que pareceu dois anos,  Amélia conseguiu vencer os nós de seus cabelos escuros, que por causa de tantos anos em contato com o cloro, e a falta de paciência da menina para idrata-lo, estava sempre com a aparência de palha.
 Enquanto via as outras garotas disputarem um pedaço do espelho segurando diversos recipientes que provavelmente portavam maquiagem. Amélia subiu em um banco para conseguir de ver por cima de tantas cabeças e tentou disfarçar suas olheiras, lembrancinhas das ultimas noites sem sono, com algo que uma menina ofereceu.
 Antes mesmo de chegar na porta do colégio, Emma já tinha atraído atenção de diversas pessoas, algumas acenavam para ela, elogiando o treino. Alguma menina chegou perto dela e disse sobre uma nova tecnica de brinzeamento, que talvez ajudasse no problema de Amélia. Ela não sabia muito bem o que oensar, mas resolveu sorrir e agradecer. Outras sussurravam baixinho algo que ela achava que era sobre seus tênis gastos e confortáveis. O grupo de intercambistas da Dinamarca também falavam alguma coisa. Algo dizia a ela que eles não foram mais educados do que o ultimo grupo. Ela agradeceu mentalmente aos pais por não a botarem na aula de dinamarquês.
 Assim que se viu livre de todos, começou a correr em direção a casa de sua vó. Todas as suas tentativas de prender o cabelo curto atrás da orelha foram inúteis. Frustada com o gelado vento , que ia para a direção oposta a dela, enfiou  cabeça no capuz e sussurrou "Qual foi, vento? Agora até você está contra mim?"
 A menina quase tão branca quanto a neve não podia dizer que sua vida toda foi assim. O lugar al lado dela nas mesas do refeitório era bastante disputado alguns anos atrás. Todos amavam seus desenhos. Chamavam ela para ir a sorveteria ou cercavam ela durante os intervalos. Ela não conseguia se lembrar ao certo quando os convites para cinemas e parques se transformaram em festas ou outras coisas que Amélia não se sentia muito atraída. Também não entendia como que do nada, era mais legal quem tinha mais sapatos do que quem tinha mais livros. Ou o porque de que todas as meninas que passavam com bandejas de saladas a olhavam com desdém enquanto comia um cheeseburger ou coisa assim. 
 Entre todas os comentários sem fundamento que ela recebia, uns dos que mais a perturbava era o problema que as pessoas tinham com quem não usasse uma saia ou um vestido cheio de lantejoulas. Como se quem ousasse desobedecer as regras desse novo mundo saindo de casa com uma blusa que não brilhasse tanto que pudesse cegar alguém a 30 metros de distância fosse um completo esquisito.
 Emma fira tão absorvida que só percebeu que chegara ao seu ponto final quando sua vó abriu a porta segurando o bolo preferido dela. Será que nessas novas regras eu não posso comer nem um bolo?, ela se perguntou. Ela tentou afastar esses pensamento e sorriu para vó, que fez uma cara de preocupação e perguntou se Amélia estava com frio ou gripada, pois suas bochechas estavam muito vermelhas. Isso se chama raiva, vó, ela pensou, mas não disse, não era justo.
 Assim que se sentou no sofá e deu a primeira mordida em seu pedaço de bolo de morango, prometeu a si mesma que nada disso importava. Ela não sabia muito bem se estava sendo honesta. Mas tinha certeza absoluta de uma coisa, ela gostava de seu corpo, ela gostava de suas roupas, ela amava a sua personalidade. Emma se sentia bem com sigo mesma. Afinal, era isso que importava, certo?
 Mas ainda tinha uma única pergunta que a perturbava. Só uma duvida estrema. O que as pessoas querem com isso? O que elas seriam capazes de fazer para chegar na perfeição? Por que elas são tão obcecadas em serem perfeitas?

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